quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

A Inclusão digital e o Metrô

Este é um texto de 2010 que, por algum motivo, não estava mais no blog. Achei que merecia voltar.

Hoje em dia é comum a gente ouvir por aí o termo "Inclusão Digital". Isso parece até um nome próprio, mas é só um jeito bacana de se referir ao ato de tornar o contato com as diversas e novas mídias acessível a todas as camadas sociais. Simplificando ao máximo, inclusão digital, na prática, é colocar aquela pessoa que ganha um [ultrajante] salário mínimo, em contato com um computador, coisa que, talvez, ela não tenha condições de ter na casa dela, por exemplo.

Mas como eu disse antes, eu estava simplificando ao máximo o significado da expressão. Porque a Inclusão Digital se dá por muitos outros meios. Um deles é a democratização do aparelho celular. E do aparelho celular com câmera fotográfica. E com acesso a e-mail. E com câmera de vídeo. E com câmera fotográfica de alta resolução. E com comando de voz. E com GPS. E com tecnologia 3G. E que lava, passa, cozinha e te faz cafuné antes de dormir. Mas o problema mesmo - e que ninguém deve ter pensado que seria um problema - é o celular com mp3.

Celular com mp3 é uma criação do demo e é por causa dele que eu odeio a inclusão digital. Ele parece inofensivo, mas não é. Pelo menos não quando cai na mão de algum acéfalo que pega metrô. Eu chamo esse tipo de MC Mobile. E não, não riam porque não é engraçado pegar metrô lotado ao som de Rebolation. Aliás, na verdade é uma merda. Mas é interessante porque a gente consegue perceber qual é o tipo de pessoa que nos cerca apenas analizando a relação que ela tem com seu celular com mp3.

Esse tipo que ouve mp3 alto dentro do vagão [ou em qualquer lugar] costuma achar chique botar o som "no talo", e ficar com aquele troço perto da orelha, como se fosse o radinho de pilha que meu vô costumava usar pra ouvir o futebol. A cena por si só já é bem constrangedora, mas alguns transcendem o ridículo e fingem dublar o que estão ouvindo, e/ou fazem caras&bocas durante a música. Dentro do tipo "que-ouve-mp3-alto-no-celular", existem vários subtipos; os que ouvem funk, os que ouvem pagode, os que ouvem música eletrônica e por aí vai...

Infelizmente, fazer cara feia ou tentar manifestar qualquer tipo de incômodo com a situação é ineficaz, pois a esse tipo de pessoa falta tanta noção, que elas costumam achar que os olhares repreensivos que recebem são, na verdade, a constatação do sucesso de sua performance. Certa vez, dentro de um vagão do trem [dessa vez aconteceu dentro dos domínios da CPTM...], um MC Mobile estava lá, todo pomposo, com sua evidente recém-aquisição. Imaginem; além daquele barulho ambiente super agradável dos trens, tinha aquele ser todo cheio de pose, com aquele troço, tocando qualquer coisa que eu - graças aos céus - desconheço, no volume mais alto que o aparelho possibilitava.

Enquanto as pessoas normais olhavam para ele incomodadas, atitude que ele interpretou como puro sucesso, ele transbordava satisfação. Havia lugar pra sentar, mas ele preferiu ficar de pé, de modo que ele pudesse bater um dos pés de vez em quando, e dar uma remexida vez por outra. Como os olhares não se desviavam dele, em dado momento ele resolveu exercitar seu carisma de popstar; fixando o olhar para um grupo de pessoas, estendeu a mão que segurava seu "possante" e, com aquela cara que só os idiotas têm, perguntou:

Quer que troque a música?

Entendem quando eu digo que ODEIO a Inclusão Digital?

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Você, Leitor.

Caros amigos Leitores, como vocês devem ter notado, o blog anda às moscas já tem um tempo. Houveram tantas mudanças na minha vida nesses últimos tempos, que acabei parando de escrever por um misto de falta de tempo, de motivação e, algumas vezes, de saco mesmo.

Acontece que, como vocês bem sabem, usar transporte público não está entre minhas atividades favoritas, então quando eu tenho opção, prefiro resolver as coisas de casa mesmo ou ir sempre aonde é mais próximo, pra usar metrô/ônibus/trem quanto menos possível. O problema[?] disso é que eu acabo me estressando menos, o que acaba não textos.

Entãããããão, pra resolver isso, convido vocês a me mandarem sugestões de situações que os tenham tirado do sério ao utilizar nosso maravilhoso e eficientíssimo sistema de transporte público. A intenção é transformar seu estresse num texto aqui pro NVDM, assim todo mundo desabafa, e continuamos dividindo as extraordinárias experiências que este mundo espetacular nos proporciona.

Se você também quiser desabafar e dividir uma situação pela qual tenha passado, ou visto alguém passar, dentro de alguma das filiais do inferno sobre a Terra, é só me enviar seu tópico via comentário aqui no blog. Não esqueça de colocar também seu nome e e-mail para que você possa ser avisado quando o texto com a sua idéia for pro ar, e também para que ela seja creditada no texto.

Estarei aguardando ansiosamente!

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A relação do Cheetos e seus similares com a atmosfera metroviária

Estou pra escrever este texto há um tempão, mas sempre acontece alguma coisa que faz com que eu deixe pra depois.

Eu nunca consegui entneder direito como tem gente que come coisas tipo Cheetos. O negócio é de comer, mas tem um puta cheiro de vômito. É, vômito. V-Ô-M-I-T-O, sacou? E todo mundo sabe disso desde que aprende a mastigar e experimenta um Cheetos do amiguinho no recreio da pré-escola [aliás, que se registre que a venda desse negócio devia ser proibida, ao menos em ambientes escolares].

Pode até ser que, por um período na vida, você goste de Cheetos. É, porque o sabor, apesar do cheiro de vômito, não é dos piores. E quando se é criança, a gente não tem lá muito critério na hora de comer, não é mesmo? Contanto que não seja saudável, tá valendo. Mas para o ser humano normal, o que costuma acontecer é que, depois de uma certa idade, o futum prevaleça sobre o sabor e o indivíduo pegue nojinho de Cheetos, e todos viveram felizes para sempre.

Acontece que o mundo não é feito só de gente sensata, limpinha e cheirosa, né minha gente? E todo sem noção tem de fazer gordices. Sendo assim, bora lá abrir um Cheetos dentro do metrô lotado as seis da tarde, de preferência, no verão???

Acho incrível esse tipo. Eu o chamo de Larica Desenfreada, dado o tamanho da necessidade em que alguém tem de se encontrar pra submeter a si mesmo e aos outros presentes a uma situação tão dantesca. E o pior é que ele tem variantes. Algumas, muito particularmente encontradas em algumas estações específicas. No metrô Belém, por exemplo, o Cheetos é substituído por uma bandeijinha de isopor que suporta uma torre de batata frita encharcada em óleo e condimentada com tubos e mais tubos de ketchup, mostarda e - sempre o melhor pro final - MAIONESE! O agravante dessa fina iguaria, é que ela não só cheira como uma gorfada, como também tem aparência de uma.

Como alguém COME aquilo, eu não sei. Agora, eu compreendo menos ainda como é que alguém tem a brilhante idéia de entrar com aquilo num vagão de metrô. Vamos combinar que metrô já costuma ser lotado e quente. Aí a fulana - sim, porque normalmente, quem come essas tralhas é uma fulana, geralmente rolicinha, do tipo que não poderia por nada estar comendo um isopor cheio de calorias - adentra o recinto portando este item embrulhante de estômago cujo odor toma conta de todo o vagão. É de chorar, meus amigos.

Se você for uma pessoa que, como eu, tem cabelos longos, a situação fica ainda mais crítica, pois pode ter certeza que o ser vai ficar perto de você, e provavelmente melará o seu cabelo coma gororoba que ela está comendo, o que, by the way, ela nem vai perceber, dada a voracidade com a qual devora seus apetitosos quitutes.

Portanto, se surgir a necessidade de pegar metrô, não se dê ao trabalho de lavar seu lindo cabelo. Com certeza na volta pra casa você será obrigado a tomar um belo banho, lavar o cabelo, e ainda, colocar suas roupas de molho, afinal, cheiro de fritura não costuma sair na primeira lavada.




quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O bêbado

Dia desses estava eu em uma de minhas intermináveis viagens de metrô lotado. Eis que, em uma estação qualquer, um cara que falava ao celular entrou no vagão. Não era uma figura comum, dessas que se perdem na multidão; ele era esquisito. Exageradamente magricelo, tinha feições estranhas, mas o que realmente chamava a atenção era o fato de que ele estava bebaço e exalava um cheiro tão forte do encontro com a marvada, que o futum anunciava a sua presença a kilômetros. Como se isso não bastasse, ele falava MUITO alto ao celular. "Coisa de bêbado", pensei.

Como o metrô estava cheio e não tinha como sair de perto, além de passar a viagem toda tentando prender minha respiração de tempos em tempos por causa do fedor que ele exalava, também acabei ouvindo, involuntariamente, a maior parte de sua conversa. Era fácil perceber que ele estava falando com uma namorada. Na verdade, era óbvio, e logo vocês vão entender por quê...

A princípio, não deu pra saber exatamente qual era o assunto, mas, depois de um tempo, a conversa do bêbado foi tomando um tom mais... definido. E foi aí que eu comecei a realmente prestar atenção. O cara discutia sobre um assunto qualquer com alguém que deveria ser uma namorada ou algo do tipo, eis que, em um dado momento, ele perguntou se ela mentiria pra ele.

Apesar de não dar pra saber qual era o contexto da história, dava pra sacar que ele tinha descoberto alguma coisa sobre aquela pessoa por quem ele se enamorava - e não devia ser algo bom. Ele até pareceu controlado na maior parte do tempo, mas, quando fez aquela pergunta..... "Você não mentiria pra mim, mentiria?"... As emoções transbordaram pela sua voz. Em seguida, para não deixar dúvidas, começou a repetir e repetir que a amava num tom tão apaixonado que até eu acreditei ser verdade.

A princípio, fiquei incomodada quando ele entrou no vagão falando alto e cheirando mal, mas depois fiquei com dó. E comecei a divagar. Em primeiro lugar, a única coisa qeu passava pela minha cabeça enquanto ele perguntava se ela não mentiria pra ele foi: "como somos idiotas quando estamos apaixonados". E digo somos, porque sei que eu faria alguma idiotice parecida se estivesse no lugar dele, mesmo sabendo que sim, a outra pessoa mentiria, SIM. E obviamente, ela jamais assumiria isso pra mim.

Infelizmente, o ser humano não costuma valer a pena. E ainda que você venda sua alma pela outra pessoa, ainda que faça de tudo pra não vê-la sofrer, não pode jamais presumir que ela faça o mesmo por você. Pior ainda: provavelmente, além dela não corresponder o gesto, se ela tiver a menor desconfiança de que é muito amada, são grandes as chances dela resolver se aproveitar da situação das maneiras mais variadas.

Estava lendo outro dia um texto sobre o amor num livro chamado ''Mutações. Ensaios sobre as novas configurações do mundo'', de Adauto Novaes, e em algum lugar ele falava sobre subjugar o outro. É contraditório e é triste, mas o amor normalmente é isso. Subjugar o outro. Pessoalmente, eu acho isso infinitamente triste. Gosto e costumo - por romantismo ou talvez até ingenuidade da minha parte - tentar tratar o amor com certa pureza de sentimento. É claro que é difícil pra qualquer ser humano, já que é fácil ser tomado pela vaidade quando se percebe que o outro está muito caidinho pro seu lado. Mas deixar isso acontecer é sacanagem. É muita injustiça se aproveitar do sentimento alheio.

E eu fiquei ali pensando muito mais do que eu tenho saco pra escrever agora, com muita pena daquele menino, quase sentindo o que ele estava sentindo. Quem vai saber se não foi o desespero da decepção o responsável por aquele cheiro de álcool? Não dá pra saber, mas é o meu palpite...

Cheguei em minha estação final e desci do trem. Ele também desceu,e ainda falava ao telefone. Eu atravessei a passarela logo atrás dele e vi aquele rapaz magro, feio, bêbado e bobo se afastando. E conforme nos distanciávamos eu ouvia "eu te amo" cada vez mais baixinho, enquanto deixava escapar uma lágrima de compreensão.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O Passageiro Pseudo-Intelectual

Se você é uma pessoa que tem o hábito da leitura, já deve ter tido a experiência de ler no metrô. Se você já teve a experiência de ler no metrô, deve saber que isso só é possível longe dos horários de pico e, de preferência, se você estiver sentado. Qualquer tentativa de ler o que quer que seja fora dessas condições tem 99,9% de chances de dar merda. Pode parecer exagero ou implicância da minha parte, mas na prática, trata-se apenas de uma questão meramente espacial mesmo.

É muito simples, imaginem a seguinte situação: lá está você, as 6hs da tarde [ou da manhã, dá na mesma porque o caos é o mesmo], em meio ao corredor de um vagão do metrô já abarrotado de gente na Sé. Ao olhar pela janela, você se depara com centenas de pares de olhos aflitos, e pés que anseiam por adentrar o vagão em que você se encontra, antes mesmo das portas se abrirem.

Quando as portas se abrem, aquela manada de mamutes urrantes força a entrada no trem, mesmo depois de cada centímetro do vagão já estar preenchido. Não há espaço sequer para uma molécula extra de oxigênio, o quê, aliás, você percebe que começa a faltar. Neste cenário, SE você é um leitor assíduo, e SE é uma pessoa sensata, você tenta achar uma posição razoavelmente "confortável", mantem-se nela, e simplesmente, respira. E deixa a leitura para um lugar mais propício.

Já se você é um desses descendentes do Joselito, que só se utilizam da ferramenta da leitura pra se certificar de que seus nomes não estão no site da polícia civil por alguma das cagadas que fizeram na vida, e que normalmente pegam metrô no mesmo vagão que eu, você ABRE UM LIVRO [ou uma apostila, um folder, um mapa-mundi, whatever...]. E não contente com a joselitagem número um, ainda encontra espaço pra uma ousadia maior, agindo como se as pessoas a sua volta estivessem cometendo o DESPAUTÉRIO de não evaporarem para dar espaço ao livro que, aliás, está na cara que só é aberto no metrô.

Pode parecer engraçado, mas isso acontece corriqueiramente. Como se não bastasse o aperto padrão do metrô nos horários de pico, sempre tem um imbecil que insiste em resolver ler com o livro apoiado na sua cabeça/nuca/costas/ombros. E normalmente, olhar feio não resolve. Aliás, experimente reclamar para ver o que acontece: é barraco na certa! Não importa quanta razão você tenha. Também pudera; se essas pessoas tivessem educação, jamais PENSARIAM em tomar uma atitude dessas.

Guia de Etiqueta para o Metrô

Nossa consultuora de moda, estilo e etiqueta, Cláudia Abafao Caso, dá dicas para você, que quer parecer cult e cool dentro do metrô, sem dar na cara que na verdade, você não costuma ler nem plaquinha com nome de rua.

"Ao entrar no metrô, mantenha sempre uma postura blasé [não sabe o que é blasé? www.google.com], andando com postura reta, nariz e bumbum empinados. Se achar necessário abrir um livro só para reforçar a pose, em primeiro lugar, certifique-se de que ele não está de cabeça para baixo. Depois, preste atenção a sua volta, pois a envergadura de seu livro não deve ser um incômodo para outros usuários. Caso você constate que não há espaço para manter olivro aberto, leve-o fechado nas mãos, usando um dedo como marca páginas.
Se nada disso conseguir te deixar com cara de cult, use uma boina."

Cláudia Abafao Caso

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Lado direito, lado esquerdo, lado esquerdo-direito...

Um dia, quando eu era criancinha, lá no maternal, a Tia Dalva colocou um pingunho de "tinta dedo" nas costas de cada uma das nossas mãos. A tinta era amarela na "mão que escreve", e vermelha "na outra", e assim ela nos ensinou o que era direita e esquerda.

Quando eu lembro disso, apesar de não ter nenhuma qualificação pedagógica, encontro um erro enorme neste método: como ensinar que a direita é a "mão que escreve" pra um bando de crianças onde nem todas são destras?? Se o cara for canhoto, vai crescer achando que a mão esquerda dele é a direita, e vice-versa!

E isso causará transtornos terríveis na vida desta criança quando ela for adulta. Por exemplo:

- Ela não vai tirar carta de motorista. Imaginem um teste de direção... O instrutor diz: "fique sempre à direita", daí o cara fica na esquerda [que pra ele É a direita], bate o carro, é reprovado e aí vão anos de terapia pra consertar o trauma.

- Ela vai viver perdida. Mais alguém consegue visualizar como seria a situação desse cara saindo do metrô e pedindo informação pra chegar em algum lugar???

- Ela não vai conseguir manter relacionamentos amorosos. Porque aliança de namoro, é colocada no anelar direito. Se a namorada[o] tiver a noção de direito e esquerdo dos outros mortais [os destros], a namorada[o] vai se assustar achando que o cara[ou a menina] está sendo apressadinho[a]. Por outro lado, se ele[a] optar por só usar alinaça depois do casamento, só então a companheira[o] vai descobrir que depois de casada[o], ela ainda está noiva [e isso pode dar divórcio].

- E por fim, se esse cara for um usuário do metrô, ele, com certeza, vai ser aquele ser que fica parado à direita da escada rolante bloqueando a passagem, e faz cara feia quando alguém pede passagem porque afinal de contas, ele está no lugar certo.

Por isso, senhoritas professoras de maternal, mais cuidado na hora de ensinar direita e esquerda para as crianças. Hunf!

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Anjos existem

Hoje eu acordei muito triste.

Essa semana não tem sido a minha, e como o metrô é um amplificador de emoções [sempre tem alguém lá pra tornar seu dia pior...], certamente depois da minha viagem para o trabalho, meu dia ainda ia piorar...

O metrô não estava muito superlotado [estava apenas lotado] na hora em que eu o peguei, hoje de manhã. Mas como eu previa, sempre aparece um filho da puta.. Esse apareceu cedo: pegou o metrô logo na minha primeira estação.

Era um cara alto, mal-encarado, escondia o rosto no capuz da sua blusa de moletom, e entretia-se com um celular; o perfeito estereótipo de mano da z/l. Para completar sua imagem pré-concebida, só faltava a má educação, coisa que ele conseguiu demonstrar com clareza quando, em meio a uma profusão de lugares para segurar, escolheu poucos centímetros acima da minha cabeça, e ainda, passou a usá-la para apoiar o cotovelo.

Pronto! Meu dia ruim já estava a começando ser ruim, exatamente como eu previa. Mas eu não contava com Ele... O mano estava atrás de mim, mas do meu lado esquerdo - o lado da porta do metrô - tinha um outro rapaz. Era simpático, mas meio esquisito; algumas vezes, eu percebia que ele fixava seu olhar no meu rosto, ficava um tempão olhando como se fosse me dizer alguma coisa, mas não dizia nada.

Algumas vezes, tive a impressão de que esse cara ia tentar algum xaveco ou coisa parecida, mas me surpreendi com ele. Percebendo todo o desconforto que o mano da z/l me causava [afinal eu não tinha onde pôr, vejam só, a minha CABEÇA], ele se esforçou pra abrir um espaço a mais entre nós e me disse: " vem mais pra frente". Fiz um gesto, mostrando-lhe que eu carregava uma mochila e, por isso, eu não caberia naquele espaço, e ele, então, tentou se reacomodar de modo que minha mochila coubesse ali. Eu agradeci a ajuda, mas dali pra frente, não mantivemos nenhuma conversa.

Mais pra frente, conforme o metrô se aproximava da Sé, como de costume, o vagão foi lotando progressivamente. Para a minha surpresa, meu vizinho de viagem preferiu ser esmagado a me esmagar, e a cada leva de gente que entrava, ele fazia algum esforço para não acabar me esmagando por tabela.

A uma certa altura dos acontecimentos, fiquei intrigada, pois reconsiderei a hipótese da intenção de xaveco por parte do moço, eis que finalmente chegamos na estação em que eu desceria. O rapaz perguntou se eu desceria ali e me contou que o fim da sua linha seria uma estação depois daquela. Me desejou bom dia - ao que eu respondi educadamente - e eu desci pra fazer baldeação. Eu fiquei realmente surpresa; por que alguém que nem me conhece usou de tanta gentileza comigo assim, tão por nada, tão de graça?

Anjos existem. E eles não têm asas nem auréola; são apenas pessoas comuns que têm atitudes bacanas, em momentos inspirados, e que numa dessas, podem salvar seu dia. Eu ganhei o dia por conta da 'proteção' daquele completo estranho.

Hoje eu acordei muito triste. Mas vi o sol nesta manhã tão cinza.