Hoje em dia é comum a gente ouvir por aí o termo "Inclusão Digital". Isso parece até um nome próprio, mas é só um jeito bacana de se referir ao ato de tornar o contato com as diversas e novas mídias acessível a todas as camadas sociais. Simplificando ao máximo, inclusão digital, na prática, é colocar aquela pessoa que ganha um [ultrajante] salário mínimo, em contato com um computador, coisa que, talvez, ela não tenha condições de ter na casa dela, por exemplo.
Mas como eu disse antes, eu estava simplificando ao máximo o significado da expressão. Porque a Inclusão Digital se dá por muitos outros meios. Um deles é a democratização do aparelho celular. E do aparelho celular com câmera fotográfica. E com acesso a e-mail. E com câmera de vídeo. E com câmera fotográfica de alta resolução. E com comando de voz. E com GPS. E com tecnologia 3G. E que lava, passa, cozinha e te faz cafuné antes de dormir. Mas o problema mesmo - e que ninguém deve ter pensado que seria um problema - é o celular com mp3.
Celular com mp3 é uma criação do demo e é por causa dele que eu odeio a inclusão digital. Ele parece inofensivo, mas não é. Pelo menos não quando cai na mão de algum acéfalo que pega metrô. Eu chamo esse tipo de MC Mobile. E não, não riam porque não é engraçado pegar metrô lotado ao som de Rebolation. Aliás, na verdade é uma merda. Mas é interessante porque a gente consegue perceber qual é o tipo de pessoa que nos cerca apenas analizando a relação que ela tem com seu celular com mp3.
Esse tipo que ouve mp3 alto dentro do vagão [ou em qualquer lugar] costuma achar chique botar o som "no talo", e ficar com aquele troço perto da orelha, como se fosse o radinho de pilha que meu vô costumava usar pra ouvir o futebol. A cena por si só já é bem constrangedora, mas alguns transcendem o ridículo e fingem dublar o que estão ouvindo, e/ou fazem caras&bocas durante a música. Dentro do tipo "que-ouve-mp3-alto-no-celular"
Infelizmente, fazer cara feia ou tentar manifestar qualquer tipo de incômodo com a situação é ineficaz, pois a esse tipo de pessoa falta tanta noção, que elas costumam achar que os olhares repreensivos que recebem são, na verdade, a constatação do sucesso de sua performance. Certa vez, dentro de um vagão do trem [dessa vez aconteceu dentro dos domínios da CPTM...], um MC Mobile estava lá, todo pomposo, com sua evidente recém-aquisição. Imaginem; além daquele barulho ambiente super agradável dos trens, tinha aquele ser todo cheio de pose, com aquele troço, tocando qualquer coisa que eu - graças aos céus - desconheço, no volume mais alto que o aparelho possibilitava.
Enquanto as pessoas normais olhavam para ele incomodadas, atitude que ele interpretou como puro sucesso, ele transbordava satisfação. Havia lugar pra sentar, mas ele preferiu ficar de pé, de modo que ele pudesse bater um dos pés de vez em quando, e dar uma remexida vez por outra. Como os olhares não se desviavam dele, em dado momento ele resolveu exercitar seu carisma de popstar; fixando o olhar para um grupo de pessoas, estendeu a mão que segurava seu "possante" e, com aquela cara que só os idiotas têm, perguntou:
- Quer que troque a música?
Entendem quando eu digo que ODEIO a Inclusão Digital?